Redação Rádio Pax-Beira Moçambique
É desta forma que muitas famílias em Sofala celebram a chegada da eletricidade às suas casas, depois de décadas de escuridão. O programa Pro Energia ou Energia para Todos tem transformado o dia-a-dia de milhares de famílias na província de Sofala, levando eletricidade a comunidades que há décadas viviam na escuridão. Mas, ao mesmo tempo em que a expansão da rede traz esperança.
De acordo com Anibal da Barca, diretor da área ao serviço de cliente da EDM na Beira, a primeira fase do programa realizada entre fevereiro de 2022 e agosto de 2023 permitiu 59 mil novas ligações em 288 bairros e 13 aldeias. A segunda fase em curso desde fevereiro de 2024 já contabiliza 46.300 novas ligações, abrangendo distritos como Dondo, Nhamatanda, Búzi, Marromeu, Chemba, Gorongosa, Caia e posto Administrativo de Sena.
Nas zonas rurais, a chegada da energia tem gerado novas oportunidades económicas. No distrito de Marínguè por exemplo jovens empreendedores relatam que hoje já conseguem conservar bebidas refrigeradas, aumentando a procura nos seus estabelecimentos. Um barbeiro explica que antes só usava lâmina, mas agora, com energia elétrica, pode utilizar máquinas, oferecendo mais qualidade e conforto aos clientes.
No entanto, o entusiasmo pela electrificação contrasta com um problema grave, vandalização e roubo de energia. Só na cidade da Beira, a EDM registou 725 casos de fraude entre janeiro e agosto deste ano, o que resultou em perdas de cerca de 44 milhões de meticais. Segundo o diretor da EDM na Beira, Aníbal da Barca os casos de furto concentram-se sobretudo em zonas de elite como Macuti, Ponta-Gêa, Palmeiras e Baixa, enquanto a vandalização de postes é mais frequente nos bairros periféricos, como Munhava, Pioneiros, Massamba e Manga.
Segundo Honório José, porta-voz da Polícia da República de Moçambique em Sofala, desde o início do ano foram registadas 23 detenções relacionadas com a vandalização de postos de transformação e o roubo de materiais elétricos, com maior incidência na cidade da Beira, seguida pelo distrito de Dondo. Para travar este tipo de crimes, a PRM tem promovido encontros de aproximação entre a polícia e a comunidade, realizado vigílias comunitárias e sensibilizado os proprietários de sucatas, apontados como destino final da maior parte dos materiais furtados.
Já nas mãos das autoridades polícias os indiciados assumiram a autoria dos crimes de que são acusados e trocaram acusações entre si.
Do ponto de vista jurídico, o advogado Domingos Júlio de Sousa lembra que o furto de energia está enquadrado na Lei 12/22 de 11 de Julho – artigo 54, aplicada de forma subsidiária ao Código Penal. As penas vão de 6 meses de prisão ou multa correspondente a 10 salários mínimos até 8 a 12 anos de prisão, equivalente a 500 salários mínimos, conforme o artigo 70, alínea a e seguintes.
De Sousa alerta que estas práticas colocam em risco a própria comunidade, podendo causar curtos-circuitos, incêndios e até mortes, além de comprometer a sustentabilidade do programa de eletrificação rural.
Enquanto milhares de famílias comemoram o acesso à energia, a EDM enfrenta o duplo desafio de garantir a continuidade do programa e gerir as expectativas criadas pela eletrificação rural, num contexto marcado por furtos, vandalização e ligações clandestinas.