Esta sexta feira, a população angolana é chamada para o protesto “Dia 31 fica em casa” e para o contraprotesto “Dia 31 vou trabalhar”. À DW, jurista diz que “não se deve obrigar ninguém”.
Esta sexta-feira (31.03), realiza-se em Angola o protesto “Dia 31 Fica em Casa”. A iniciativa do ativista Gangsta visa pressionar o governo angolano a resolver os problemas sociais do país.
A sociedade angolana está dividida entre ficar ou sair de casa, embora nas redes sociais a maioria entenda que no dia 31 deve refletir-se sobre o país. É o caso de Nádia Longo, residente na capital angolana.
“Tenho cabeça, tronco e membros. Reflito, penso e sinto o que se passa cá dentro do nosso país. É uma iniciativa para chamar atenção daqueles que tem o poder das instituições angolanas, então decidi participar mesmo desta campanha”, disse a cidadã.
Desde 2011 que os cidadãos angolanos exercem nas ruas de Luanda protestos sobre a governação angolana.
“Se todos nós angolanos entramos massivamente nesta campanha, vai-se chamar a atenção de todo mundo”, acrescentou a cidadã Nádia Longo.
Muitas figuras públicas angolanas têm-se manifestado a favor do protesto. São os casos de Paulo Flores e Preto Show. Mas Yuri da Cunha, por exemplo, tem atividade agendada para o dia 31 de março.
“Dia 31 vou bumbar (trabalhar)”
Santos David é vendedor ambulante, vulgo zungueiro. Ele explica que não pode ficar em casa no dia 31.
“Eu tenho que sair para ir vender, para fazer alguma coisa porque eu não posso ficar com fome. Tenho coisas para poder cobrir na sexta-feira. Na sexta-feira eu tenho que ter mil kwanzas para poder dar na escola na segunda-feira”, confessou.
Isaias Kalunga, presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ) considera que o país não precisa de parar na sexta-feira.
A direção da UNITA, maior partido da oposição angolana, encorajou hoje (29.03) os seus militantes, enquanto cidadãos, a participarem num protesto organizado por ativistas que apela aos angolanos para ficarem em casa no dia 31 deste mês.Num comunicado de imprensa, o secretariado-executivo do Comité Permanente da Comissão Política da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) manifestou-se solidário com a causa dos ativistas, que visa protestar contra as dificuldades sociais que os angolanos enfrentam nos últimos anos.
“Não se deve obrigar ninguém”
Por sua vez, o jurista Agostinho Canando encara essa iniciativa com normalidade. Entende que se trata apenas de uma forma de exercício de direitos.
“Nós temos várias formas de apresentarmos as nossas opiniões, as nossas convicções, concordando ou discordando de determinadas opiniões públicas. É apenas um direito que cabe ao povo angolano de formas a fazer valer o direito soberano que cabe ao povo angolano nos termos do artigo terceiro da república de Angola aprovada em 2010 e também feita alguma revisão em 2021”, disse o jurista.
Porém, é da opinião que os cidadãos não devem ser forçados a fazer parte desta manifestação.
“Não se pode obrigar assim de forma veemente como estamos a ver a todos que participem deste mesmo protesto. O que se pode fazer no mínimo seria convencer a quantas anda o processo de democratização de respeito da dignidade da pessoa humana na República de Angola”.