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Moçambique pode ajudar a pacificar o mundo?

Foi o que prometeu o Presidente Filipe Nyusi, no início do mandato do país como membro não-permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Analistas ouvidos pela DW África divergem sobre essa intenção.

Com a entrada em 2023, Moçambique assumiu o seu mandato de dois anos como membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O Presidente Filipe Nyusi disse que, no Conselho de Segurança, o país usará a sua experiência em gestão de conflitos para ajudar a estancar o terrorismo e os “conflitos entre Estados”, salvaguardando os “interesses de Moçambique, de África, dos países em desenvolvimento e do mundo na defesa da paz e segurança internacionais”.

O jornalista e académico Aunício da Silva concorda com as declarações do Presidente. Moçambique “está à altura” do desafio e pode, de facto, contribuir para a pacificação do mundo, refere o jornalista.

“O Presidente tem muita razão. O nosso problema, como país, é a manutenção da paz, mas, como moçambicanos, conseguimos conversar. Não somos muito bons é a executar os consensos.”

Filipe Nyusi durante visita à província moçambicana de Cabo Delgado, em setembro de 2021

O arrastar do conflito contra os terroristas no norte de Moçambique não afeta a credibilidade do país na procura de soluções, acrescenta Aunício da Silva.

“Ainda que o país esteja a viver uma invasão aparentemente externa em relação ao terrorismo, que assola a província de Cabo Delgado e parte das províncias de Nampula e Niassa, é possível Moçambique contribuir, mas isso exige de nós um pouco de maturidade, para nos sabermos posicionar no contexto geopolítico global.”

Algumas dúvidas

Mas Felizardo Mucussete, presidente da organização não-governamental Horukunusha Moçambique, que apoia comunidades desfavorecidas em Nampula, olha com ceticismo para as declarações de Filipe Nyusi.

Mucussete considera que faltou um pouco de “humildade” ao chefe de Estado.

“Quando um Presidente da República moçambicano assume que o país vai partilhar a sua experiência de segurança é difícil acreditar nisso, porque se se refere à experiência da guerra de 16 anos, entre a RENAMO e o Governo, pós-independência, fico em dúvida”, disse.

Moçambique começa mandato de dois anos no Conselho de Segurança da ONU no início de janeiro

As dúvidas prendem-se, segundo Felizardo Mucussete, com facto de o país continuar a viver numa paz “quase inacabada” por conta do processo “malparado” de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) dos ex-guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).

A última base da maior força da oposição ainda não encerrou devido à falta de consensos entre as lideranças.

“Mudar a mentalidade”

Por outro lado, em relação à guerra na Ucrânia, Moçambique mantém a sua posição de neutralidade.

Será que isso pode afetar a posição do país no Conselho de Segurança?

O jornalista Aunício da Silva acredita que não: “O Conselho de Segurança das Nações Unidas é um órgão colegial, um membro não-permanente não poderá ditar o curso dos acontecimentos”, afirma.

Ainda assim, é preciso que Moçambique “aprenda a posicionar-se como Estado”, entende Aunício da Silva.

“Muitas das vezes, o que mina a nossa participação no processo de desenvolvimento é não tomarmos uma posição, porque pensamos sempre que, se o fizermos, seremos penalizados, porque somos pobres. É preciso mudar essa mentalidade”, diz.

Moçambique é representado nas Nações Unidas pelo embaixador Pedro Comissário, figura que Aunício da Silva considera muito experimentada e capaz de responder às expetativas delineadas pelo Presidente Filipe Nyusi.

Fonte: DW.com

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