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População em protesto contra mineradora chinesa na Zambézia

Moradores de Inhassunge, na província moçambicana da Zambézia, protestam contra promessas por cumprir da Africa Great Mining Company e ameaçam paralisar exploração de areias pesadas.

Na Zambézia, endurece o braço de ferro entre a população de Inhassunge e a mineradora chinesa Africa Great Mining Company.

Os populares dizem que estão fartos das promessas da empresa que ficaram por cumprir, como fontes de água potável, estradas e bolsas de estudo – que não saíram do papel.

Ainda na semana passada, dezenas de moradores das ilhas de Olinda e Mualane, abrangidas pela extração das areias pesadas, foram a Quelimane pedir ajuda aos deputados da Comissão de Petições, Queixas e Reclamações da Assembleia da República de Moçambique, na cidade, para encontrar uma solução.

Segundo um dos moradores, os pedidos da população não estão a ser ouvidos: “A construção de uma escola, poços, reabilitação de uma estrada, um barco-ambulância, isso não está a ser cumprido. Na ilha de Mualane, estão a dar cada machamba entre 3.000 e 3.500 meticais”.

É o equivalente a pouco mais de 50 euros. Segundo os moradores, foi o montante alegadamente dado pela empresa para compensar o uso das terras. É um valor extremamente injusto, lamentam.

Um conflito antigo

As disputas entre a população de Inhassunge e a mineradora chinesa não são de hoje. Arrastam-se há quase dez anos. Já houve inclusive mortes e feridos graves no início dos protestos, em 2014.

Além das promessas por cumprir, os populares criticam ainda a alegada falta de transparência em todo o processo.

Outro morador aponta o dedo às autoridades locais: “O chefe da localidade fala uma coisa, faz um relatório bonito, mas não aparece, e os chefes guiam-se pelos relatórios. O que está a falhar aqui? Ficamos sem saber se ele recebe ‘gorjetas’ ou não recebe ‘gorjetas’, porque o que se combina não é aquilo que se faz”, afirma.

“Se há esta história de bolsas [de estudo], nós, como naturais daqui, temos de nos beneficiar”, acrescenta.

“Vamos corrigir”, diz mineradora

O porta-voz da mineradora Africa Great Mining Company diz que tudo não passa de um mal-entendido. A empresa, segundo o porta-voz Carlos Mico, está a criar todas as condições necessárias e, muito em breve, vai abrir fontes de água potável e construir as estradas prometidas.

“A estrada é transitável, mas tem alguns aspetos que vamos corrigir. O trabalho será feito com o empreiteiro responsável pela construção daquela estrada”, afirma o porta-voz- “As fontes de água já estão a ser abertas, já temos aqui o material [para a abertura de furos de água] na doca seca”, garante.

Quanto às bolsas, acrescenta o porta-voz da mineradora chinesa, a gestão está a cargo do governo do distrito de Inhassunge.

Apelo às autoridades

Para o historiador Bruno Mendiate, face a tantos anos de conflito, é preciso uma nova abordagem para alcançar consensos entre a companhia chinesa e os moradores em Inhassunge.

“Era momento oportuno de fazermos pressão para a empresa cumprir com as suas obrigações, condicionando a retoma das atividades com a construção das infraestruturas”, sugere.

E essa pressão, acrescenta, só pode ser feita pelas autoridades moçambicanas: “Como [é que a empresa] está a explorar o que tinha de explorar sem cumprir com nenhum dos termos acordados e pode sair dali ilesa?”, questiona Mendiate.

Moçambique: A polémica exploração de areias pesadas na Zambézia

A exploração de areias pesadas em Inhassunge, na província da Zambézia, continua a gerar polémica. Residentes não querem deixar as suas terras, mas muitos cedem à pressão do Governo e da empresa responsável.

Concessionária chinesa

A Africa Great Wall Meaning Company Development, uma empresa de capitais chineses, é a concessionária na prospeção e exploração das areias pesadas na província da Zambézia desde 2014. Segundo o Governo local, a Africa Great Wall atua nos distritos de Inhassunge e Chinde, onde detém propriedades de uso e aproveitamento da terra.

Moradores têm que deixar suas terras

A presença da empresa chinesa é polémica. Depois de confrontos violentos com a polícia, que resultaram na morte de pelo menos 4 pessoas em julho de 2018, a população de Inhassunge, que basicamente vive da agricultura, diz que aceita por imposição abrir mão das suas terras para a exploração das areias pesadas.

Terras rejeitadas

No entanto, o plano de reassentar as famílias abrangidas pelo projeto de exploração de areias pesadas fracassou. A população recusa-se a mudar para o novo espaço porque, segundo os moradores, as terras são áridas e não servem para a produção de qualquer alimento. Alé disso, não há no local condições para desenvolver a pesca, tal como existem nas suas zonas de origem.

“Recuso-me a ceder o meu espaço”

Albrinho Veloso vive na ilha de Mualane e não vê com bons olhos o projeto de exploração das areias pesadas pelos chineses: “Recuso-me a ceder o meu espaço. Há um ditado popular, na língua local, que diz que ‘o futuro não é confiável’, por isso, quero continuar a viver na minha terra com as condições favoráveis para a minha sobrevivência”.

Sem energia elétrica

Há um ano, o Governo da Zambézia estendeu uma linha elétrica que parte de Quelimane, capital provincial, para a região de Inhassunge. Porém, a linha de média tensão ainda não cobre todos os lugares, como, por exemplo, as áreas onde estão a ser feitas as explorações de areias pesadas. Mais um problema que os habitantes põem em cima da mesa.

Acesso às ilhas

A vida nas ilhas daquela região não é fácil. Para chegar à Olinda e Mualane, em Inhassunge, onde as areias pesadas são exploradas, a principal portagem está ao lado de Quelimane, capital da Zambézia. Os bilhetes são vendidos por agentes da polícia marítima e alguns operadores privados que têm pequenas embarcações a motor. A viagem pode custar até 300 meticais (pouco mais de 4 euros).

Barcos de carga

As canoas a remo são os primeiros e únicos meios de transporte de mercadoria e carga para as ilhas. Os produtos de primeira necessidade para a população das ilhas em Inhassunge são adquiridos em Quelimane e transportados pelas canoas por jovens naturais do distrito. A viagem demora de 8 a 10 horas no mar.

Transporte de passageiros

Além do transporte de mercadorias, as canoas também são usadas para transportar passageiros. O custo deste transporte ronda entre 10 a 30 meticais (entre 0,10 e 0,40 cêntimos de euro). Além disso, há também serviços de aluguer diário de canoas, cujo preço é mais caro.

Fonte: DW

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