Em Nampula, norte de Moçambique, a Comissão Episcopal para Migrantes e Refugiados (CEMIRDE), uma ONG pertencente à igreja católica, denuncia o aumento de abusos e tráfico de seres humanos nas zonas de exploração mineira.
Os abusos e tráfico de seres humanos em zonas de exploração mineira na província de Nampula estão a preocupar a CEMIRDE, uma organização não-governamental moçambicana.
As autoridades de investigação criminal admitem o aumento de abusos e tráfico de seres humanos nas zonas de exploração mineira, mas não sabem a real situação da província por falta de efetivos.
De acordo com o coordenador da CEMIRDE em Nampula, Charles Moniz, o mais preocupante ainda é o facto de os traficantes estarem a transitar na maior tranquilidade sem ações visíveis para o combate.
Vítimas de tráfico
“Os traficantes procuram as vítimas frágeis e é normal vermos as pessoas a andarem de mãos dadas nas ruas e não percebermos que trata-se de tráfico”, explica”.
“As pessoas atravessam fronteiras com documentos tratados pelos traficantes”, acrescentou.
O coordenador não revela números, mas aponta os distritos de Lalaua, Memba, Murrupula, Mecuburi e Larde como sendo os com mais casos de tráfico de seres humanos, devido à pobreza extrema das populações visadas.
Em Moçambique, a província de Nampula é uma das mais ricas em recursos naturais e minerais, sobretudo as areias pesadas e pedras preciosas e semi-preciosas, esta última que fomenta a mineração ilegal.
Superstição e exploração sexual
A CEMIRDE diz que neste setor há muito tráfico de seres humanos para fins de superstição, que muitos acreditam ser fonte de sorte no garimpo, e o cenário não é novo.
“Estamos a fazer um trabalho de formação e sensibilização de alguns pontos focais distritais para darem informações às comunidades [sobre denúncias de tráfico]”, explica.
“Quando falamos do tráfico de seres humanos [em Nampula] as principais vítimas são, fora dos albinos, as mulheres e crianças, porque o tráfico tem várias finalidades; não é só morte, mas para exploração sexual”, complementa.
SERNIC sem efetivos suficientes
O Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), em Nampula, através da sua porta-voz, Elina Tsinine, admite a ocorrência de tráfico de ser humanos, principalmente no litoral.
Porém, informou desconhecer a real situação da província por falta de efetivos para chegar nas zonas mais longínquas, além da ausência de denúncias por parte dos cidadãos.
“Não vamos muito até aos locais de exploração mineira, nós trabalhamos principalmente nos distritos fazendo palestras e campanhas de sensibilização”, disse.
“Há situações em que a população denuncia casos de tráfico humano, mas quando vamos ao terreno descobrimos que não, são pessoas com consentimento das famílias e quando fazemos diligências encontramos e devolvemos ao convívio da família”, concluiu.