Sindicatos dos trabalhadores preparam assembleias para convocar greve geral na função pública. Objetivo: exigir alteração da tabela do salário mínimo nacional. Governo diz que proposta dos sindicalistas é “irrealista”.
As negociações iniciados no ano passado entre os sindicatos e o Governo angolano não surtiram efeitos.
Os trabalhadores da função pública em Angola querem um salário de pelo menos 250 mil Kwanzas (277, 64 Euros). Já a entidade patronal quer ficar-se pelo aumento de 5 por cento, que foi já efetivado nos ordenados de janeiro.
A classe trabalhadora não está satisfeita. E está decidida a combater o “salário de escravo” no país, diz o secretário-geral da Central Geral de Sindicatos Independentes e Livres de Angola (CGSILA), Francisco Jacinto.
“Convidamos todos os trabalhadores do país a apoiar-nos na adesão desta greve. Os trabalhadores têm de ser capazes de mostrar que somos a principal força produtora deste país. A riqueza natural é transformada por meio do exercício mental e físico das pessoas, e somos nós”, afirma.
E Francisco Jacinto vai mais longe ao afirmar: “Não podemos estar constantemente 48 anos sempre desvalorizado e certa medida escravizados, porque quem recebe 32 mil Kwanzas como salário mínimo não passa de um autêntico escravo”.
Apoio do setor informal
A greve geral está marcada para o próximo mês de março. As centrais sindicais dizem ter o aval dos trabalhadores de todas as províncias. Em fevereiro, serão realizadas assembleias para a convocação oficial da paralisação em todos os setores.
O sindicalista Francisco Jacinto espera também o apoio do setor informal: “Todas as 18 províncias deram sim à greve geral. Não só os trabalhadores, mas a própria sociedade. Estamos a falar das mães que vendem nos mercados informais. Se forem convidadas a não venderem, apoiando os seus filhos e sobrinhos que estão nas empresas. Se todo o mundo naqueles dias apoiarem a greve será melhor”.
O secretário-geral do Sindicato Nacional dos Professores garante que a classe docente está preparada para aderir à greve. Ademar Jinguma diz que o trabalhador angolano merece um rendimento digno.
“Os professores continuam a ser das classes profissionais muito mal pagas. Depois o Governo vem com um reajuste salarial na ordem dos 5% , nós que temos professores com salários de 80 mil Kwanzas. É muito triste isso”, lamenta.
Governo fala em proposta “irrealista”
Em declarações no final de dezembro, após uma reunião com os sindicatos, a ministra do Trabalho, Emprego e Segurança Social, Teresa Dias, considerou que o valor que se quer para o salário mínimo nacional é “irrealista”.
Secretário-geral do Sindicato Nacional dos Professores, Ademar JingumaFoto: Borralho Ndomba/DW
“Um salário mínimo nacional de 250 mil Kwanzas, todos nós, até aos nossos empregados de casa tínhamos que ter capacidade para pagar isso. Isso parece-me um número fora de qualquer senso comum. É a nossa visão. Temos que fazer perceber as centrais sindicais, que nenhum de nós e inclusive eles próprios, não estariam em condições de pagar salários a este nível”, afirmou a ministra.
Apesar de não concordar com a proposta, o Governo angolano diz estar aberto ao diálogo para evitar a realização da greve anunciada pelas centrais sindicais.
Também ouvida pela DW, a porta-voz da Associação das Mulheres Angolana (AMA), braço Feminino do partido FNLA, Maria Bulenvu, defende o corte nas regalias dos governantes para se garantir bons salários aos cidadãos.
“Deve fazer alguns cortes a eles os ministros que têm muitas benesses como direito ao combustível, todas essas rendas são pagas pelos cidadãos comuns. Eles têm algumas regalias que devem ser cortadas para se cobrir o mínimo das exigências dos sindicalistas”, sugere para depois afirmar: “Mas espero que cheguem ao meio termo”.
Fonte: dw.org