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Alastramento da violência era “previsível”, mas “inevitável”

Apesar de previsível, evitar o alastramento da insurgência para Nampula “não seria possível”, diz Egna Sidumo. Pesquisadora não acredita que a saída da SAMIM de Cabo Delgado potencie a expansão da violência.

Ataques insurgentes que abalam Cabo Delgado terão se extendido à província de Nampula, com ataques relatados em Erati e Memba nos últimos dias, distritos limitrofes com Cabo Delgado, mas não confirmados pelas autoridades.

A expansão da insurgência no norte de Moçambique “apesar de prevísivel não seria evitável”, entende Egna Sidumo, pesquisadora ligada ao Projeto Cabo Delgado da Universidade de Bergen, na Noruega. A província nortenha do Niassa já viveu réplicas da violência insurgente em 2022.

Sidumo desdramatiza o aproveitamento do vazio de segurança causado também pela retirada paulatina das forças da SADC de Cabo Delgado, mas reconhece muitos constrangimentos no Exército nacional. A pesquisadora não acredita numa expansão estruturada da insurgência. 

DW África: Era previsível que houvesse um alastramento do terrorismo para Nampula?

Egna Sidumo (ES): Embora tenha sido previsível o alastramento da violência, principalmente quando tivemos um número muito maior de forças de segurança concentradas no norte de Cabo Delgado, mas também ao longo da província controlando as vias de acesso, não parece que houvesse condições de evitar este alastramento. Até porque significaria ter um número maior de tropas e isso despertaria as forças e o exercício que tinha que ser feito para evitar perder mais território como já tínhamos perdido em Mocímboa da Praia, quando o ataque de Palma aconteceu em 2021. Então, apesar de previsível, evitar não seria possível, principalmente porque o alastramento de ataques nas províncias de Nampula e do Niassa refleta o resultado que as forças têm estado a ter dentro da província de Cabo Delgado.

DW África: Numa altura em que o país está mais debilitado em termos de forças militares com a saída paulatina da SAMIM, a expansão da violência terá mais chances de ser bem sucedida?

ES: Acredito que a decisão de Moçambique de permitir que as forças da SADC deixassem o país, tenha sido tomada com base em avaliações das condições que Moçambique pode criar, ou talvez já tenha criado, para lidar com o vazio de poder. Penso que a dinâmica de violência que estamos a ver agora continua a obedecer um critério de continuidade que já tínhamos visto antes e, pelo menos até agora, não é possível dizer que a saída das tropas da SADC vai criar um grande vazio ou grandes problemas, até porque saem perto de 1500 forças e continuam 1500 forças que são as sul-africanas.

DW África: Mas é uma conta feita com recursos alheios e inseguros. Acredita ser possível para o cidadão viver sem preocupação?

ES: Penso que é uma preocupação legítima que os cidadãos possam ter, mas também precisamos lembrar que a segurança que Cabo Delgado teve desde 2021, quando a violência atingiu o pico com o ataque da Palma, só foi possível com recurso estrangeiros. Ou seja, sim é legítima a preocupação que todos nós como cidadãos temos em relação ao que vai acontecer no futuro na província de Cabo Delgado, mas precisamos lembrar que a África de Sul já decidiu que 1495 efetivos ficam em Moçambique. Penso que Moçambique tem condições para, dentro das suas possibilidades, usar esses recursos que estão disponíveis, pelo menos até agora. E Moçambique tem de se preparar e ver qual será a melhor forma de complementar este esforço numa primeira fase e depois garantir que, mesmo com a saída destas forças, daqui a 2, 3 ou 4 anos, ela possa lidar com a questão da segurança. Há muitos constrangimentos no setor da defesa e segurança, sem dúvida, e esperamos que as autoridades moçambicanas estejam a lidar com cada um desses constrangimentos com a importância necessária para garantir que nos próximos tempos a violência possa melhorar.

DW África: Moçambique ainda vai atrasado no robustecimento das suas forças, mas a insurgência não. Quais as consequências que podem advir desse desnível?

ES: Não creio que a saída das forças da SAMIM vai criar um caos que possa se refletir num maior número de ataques e numa expansão estruturada dos ataques para os distritos de Niassa e de Cabo Delgado. Claramente que é um vazio de poder e muito provavelmente haverá muitas dificuldades para lidar com este vazio de poder numa fase inicial, mas não me parece que haja condições para que haja um crescimento estruturado do número da ataques. Lembrando que as forças ruandesas já demonstraram disponibilidade para aumentar o seu contingente na província do Cabo Delgado.

Fonte:dw.com/pt

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