Nas redes sociais, circulam imagens de soldados não identificados, supostamente a queimar corpos de insurgentes na província de Cabo Delgado. “É embaraçoso” para a imagem de Moçambique na ONU, diz investigador.
As Forças Armadas da África do Sul emitiram esta terça-feira (10.01) um comunicado informando que foi aberta uma investigação pela Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) em Moçambique (SAMIM) para aferir a veracidade dos vídeos que circulam nos últimos dias nas redes sociais mostrando soldados aparentemente queimando corpos de insurgentes perto da aldeia de Nkonga, no distrito de Nangade, na província de Cabo Delgado, em Moçambique.
Segundo o comunicado da Força Nacional de Defesa da África do Sul (SANDF, na sigla em inglês), citado pelo jornal sul-africano Daily Maverick, o vídeo “mostra as SANDF e outros membros de forças de defesa desconhecidas envolvidos em atividades contra a lei do conflito armado”.
O general sul-africano Andries Mahapa, citado pelo portal sul-africano DefenceWeb, confirma que o Exército da África do Sul “tomou conhecimento de um vídeo a circular nas redes sociais mostrando membros de uma força de defesa ainda não identificada a atirar cadáveres para uma pilha de entulho a arder, bem como membros das SANDF
Segundo o comunicado da Força Nacional de Defesa da África do Sul (SANDF, na sigla em inglês), citado pelo jornal sul-africano Daily Maverick, o vídeo “mostra as SANDF e outros membros de forças de defesa desconhecidas envolvidos em atividades contra a lei do conflito armado”.
O general sul-africano Andries Mahapa, citado pelo portal sul-africano DefenceWeb, confirma que o Exército da África do Sul “tomou conhecimento de um vídeo a circular nas redes sociais mostrando membros de uma força de defesa ainda não identificada a atirar cadáveres para uma pilha de entulho a arder, bem como membros das SANDF
DW África: Caso se comprove a veracidade dos vídeos em questão, em que contexto pode ter acontecido este incidente?
João Feijó (JF): Acho que esta situação nos permite tirar algumas ilações. A primeira que gostava de salientar é que os militares dão este destino aos cadáveres de uma forma um pouco leviana e demasiado naturalizada. Através do vídeo é possível ver que pelo menos três militares estão a filmar. Isto traduz uma certa naturalização deste fenómeno, que revela a desumanização que já se tornou banal no terreno.
DW África: O que é que isto pode representar para a credibilidade da SAMIM na luta contra o terrorismo em Cabo Delgado?
JF: Naturalmente que a credibilidade da SAMIM sai beliscada, porque isto revela alguma indisciplina por parte dos militares, que trazem telemóveis e fazem filmagens no terreno. Isto é algo que foi conhecido porque foi filmado. Resta saber a quantidade de atos deste género que acontecem e que não são filmados — por parte de todos os agentes no terreno, não só da SAMIM. As tropas moçambicanas também já fizeram os seus massacres, que também estão documentados e apareceram nos média. A única diferença é que houve uma negação por parte das autoridades moçambicanas, que disseram que estes vídeos são fake news.
Uma outra ilação que podemos tirar é que a reação de comunicação por parte do Exército da SAMIM, sobretudo o sul-africano, foi muito mais assertiva. Reconheceram o ato, referiram que não se identificam com o mesmo.
Agora, o Exército sul-africano atirou a responsabilidade para a SAMIM, que estava a comandar as operações, a SAMIM demarca-se desta situação e diz que vai investigar, mas não nega abertamente como fez o Governo moçambicano.
DW África: Quais serão as repercussões a nível internacional, nomeadamente da Organização das Nações Unidas, caso se venha a comprovar a veracidade dos vídeos?
JF: Moçambique, desde 1 de janeiro, faz parte do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Levantou como bandeira as questões da paz, do combate ao terrorismo, da partilha de experiências.
Perante as Nações Unidas, esta situação é embaraçosa para Moçambique, indiretamente. Apesar de não ter sido cometido por tropas moçambicanas, foi um ato realizado em território moçambicano, portanto, é embaraçoso. Perante os grandes doadores que estão a fazer uma guerra por correspondência — a União Europeia tem ali interesses energéticos, nomeadamente através da Total, da Eni e da Galp — este incidente é embaraçoso. Quem ganha mais com isto é o Ruanda, porque até hoje não surgiram notícias deste tipo de comportamentos protagonizados pelas tropas ruandesas.
DW AFRICA